Esta é a história de uma brasileira que mora em Madrid, pegou a van e caiu na estrada até a França.
Mas pra quê ir tão longe? Fugir do calor madrilenho em agosto – aproveitar para visitar uns amigos na Catalunha – dar uma passadinha por Veneza – terminar com outra visita em Annecy.
Contarei um pouco dessa road trip (viagem de carro) com meu companheiro, quem sabe você se anima a fazer também?! Vamos nessa?
Caminho de ida
Sair de carro de Madri em direção à Comunidade de Catalunha é bem prático. É só pegar a A2 e ir sempre em frente. Passamos por Alcalá de Henares, Calatayud e Zaragoza, onde sempre é gostoso dar uma paradinha.
Dali desviamos à direita sentido Mediterrâneo e passamos por Lérida e Girona. Tudo isso se faz tranquilamente em 7 horinhas, revezando no volante para não cansar muito. Como a ideia era dormir na Catalunha, não paramos para visitar nenhum lugar antes.
Finalmente chegamos ao Parque Natural dels Aiguamolls de l’Empordà, no Golfo de Roses, Girona.
Lá perto desse parque natural tem vários campings que são fantásticos. Ficamos em um deles, grudado no parque mesmo, o Nautic Almata, que tem instalações para 3 mil pessoas.
Parece uma cidadezinha, é impressionante. Conta com restaurantes diversos, sendo que um deles com piscina, um disco bar na frente da praia onde quem quiser pode dançar a partir de uma hora determinada, lavanderia com 10 máquinas + secadoras, supermercado, pizzaria, feirinha de artesanato e atividades várias.
O camping basicamente recebe grupos de jovens de fim de curso da Alemanha, Inglaterra e Holanda. Além de ter hóspedes avulsos como espanhóis, franceses e de vez em quando esta brasileira que lhes escreve.
Onde abastecer, na Espanha ou na França?
Se você pensa em encher o tanque antes de sair da Espanha, recomendo que leia as próximas linhas. O combustível na França é muito mais barato do que na Espanha. E o melhor lugar para abastecer é nos postos dos hipermercados, tipo Intermarché (preferível por ser o mais econômico), Auchan, E.Leclerc ou Carrefour, que normalmente ficam fora das autopistas. Se você estiver fazendo distâncias longas, vale a pena sair da autopista, porque como resultado final dá pra sentir uma bela diferença no orçamento.
Voltando à viagem…
Saindo da Catalunha fomos subindo pela costa do Mediterrâneo, e já na França dormimos na praia em Leucate, e no dia seguinte fomos direto para a Itália.
Todo mundo recomenda parar em cidades importantes e interessantes como Montpelier, Marselha, Nice, mas nesse dia fomos direto para Gênova. É fácil de entender: com van e no verão, não recomendo fazer a Costa Azul porque os campings são caríssimos, não têm vaga se não tiver feito reserva e no fim o carro acaba sendo um problema. Então, acho que vamos ter que voltar para fazer essa costa em outra época do ano.
A chegada na Itália chamou a atenção pela forma como dirigem lá, como dizem os cariocas, é sinistro. Parece que estamos num filme, as ultrapassagens são feitas sem cuidados, os motoristas por via de regra não respeitam semáforos e têm muita pressa. Agora, o visual tanto das praias como dos campos merecem um aplauso e várias paradas… é colírio para os olhos!
Dormimos num estacionamento pago para vans em Gênova e no dia seguinte fomos direto para….
Veneza
Veneza é linda, romântica, glamorosa, colorida e flutuante. Tem gente do mundo inteiro, que quer conhecer um dos portos medievais mais importantes do Mediterrâneo, que foi potência também durante o Renascimento.
O astral do lugar é realmente mágico.
Todo mundo fugindo do trânsito…
Não à toa inspirou Shakespeare a escrever o Mercador de Veneza. Lembra-se do filme? Aqui vai o trailer com legenda em português.
Onde dormir? Veneza não tem camping…
Veneza tem camping sim. Aliás, tem alguns:
- Venezia Camping Village
- Camping Fusina
- Camping Rialto
- Camping Serenissima
No site do eurocampings você pode consultar todos os campings de Veneza e da Europa.
Optamos pelo camping Serenissima, que fica a uns 30 min de ônibus do centro. Vale a pena se hospedar lá para sentir como é a vida de Veneza além dos canais. Os gestores do camping foram muito receptivos, nos deram dicas de onde comer, como pegar transporte público e contaram a história de Veneza inteira.
Era um casal, ele marroquino e ela italiana. Conversávamos em espanhol e eles em italiano, todos falando bem devagarinho e nos entendemos perfeitamente. Nada como a boa vontade, né?! Eles foram nota 10! Super-recomendo o camping!
De Veneza fomos pela região de Veneto (Padua, Verona), Lombardia (Bérgamo, Milão) e Piamonte (Torino), até a divisa com a França. Paramos em alguns lugares para comer.
Vou contar o motivo de não termos ficado na Itália: ao passar por um cruzamento, um carro vinha pela direita e tinha que ter parado, não parou. Nós na estrada e ele saindo de uma rua que dava para a estrada. Quase perdemos o controle do nosso ao desviar dele, o carro balançou e até paramos para entender o que tinha acontecido e recuperar o fôlego. Então decidimos levar na esportiva e sair daquelas estradas o quanto antes.
Entrando na França de novo
Serviços
A França está muito bem preparada para que acampa e para quem viaja de van e autocaravana. A cada 10 km há um posto com banheiros, lugar para lavar louça, estacionamento com sombra e muitas vezes uma ducha. Os espaços são enormes e costumam estar bem limpinhos e mantidos.
Digo postos porém nem sempre tem um posto de gasolina com restaurante ou lanchonete. É mais a ideia de um lugar de parada mesmo. Tem gente que dorme nesses lugares, no nosso caso não houve necessidade e sempre optamos por dormir em parques ou praças, que são mais bonitos.
Assim foi a chegada à França, entramos por Briançon direto ao Parque Natural des Écrins. Sabe aquelas paisagens que a gente vê nos filmes? Com as montanhas super altas, gelo, prados, um rio, pedras rolando… idílico.
As pessoas muito amáveis, e quando veem que somos estrangeiros, fazem de tudo para que nos sintamos à vontade. Isso foi em toda a França. E todas as vezes que fomos para lá.
Passamos de um parque a outro, até bordear o Parque Nacional de la Vanoise. Você já viu o Tour de France? Aqueles ciclistas atletas subindo aquelas montanhas com aquelas “bicicletinhas” fininhas? Passamos por uma estrada que é parte do Tour de France.
Não vou descrever as vistas, veja você mesmo. O que vou contar é que os ciclistas subindo “aquilo” tinham de 50 anos para mais, e que são uma injeção de ânimo para quem se acha velho para pedalar.
Depois fomos em direção a Chambéry, para conhecer um lago, o Lac du Bourget, que pertence ao município de Aix-Les-Bains. Os campings estavam praticamente lotados, tivemos sorte e conseguimos uma vaguinha num deles.
Lugar espetacular para andar de bicicleta. Toda a França tem ciclovias, e nesse povoado tem uma que acompanha boa parte do contorno do lago. Isso sim, ir de boca fechada ou com um lencinho, porque no começo do dia e no fim da tarde tem muitos mosquitos. 😉
Nesse lago fica a Abadia de Hautecombe, construída em 1125, que pertence aos cistercienses. Só uma parte é aberta ao público, e vale uma visita.
Annecy
Saindo de Aix-les Bains há uma estrada que contorna o Parque Natural Regional du Massif des Bauges, e a menos de 40 km fica Annecy.
Uma graça de cidade, que fica de frente para um lago gigante com umas montanhas altíssimas ao fundo.
Ficamos uns dias com os nossos amigos perto de Annecy, enquanto eles iam trabalhar nós aproveitávamos para nadar no lago.
Annecy é um lago glacial que fica a 446m de altitude, famoso por ser um dos lagos mais limpos do mundo, com água verde que parece o mar, e fria que parece de cachoeira.
Parece que dá para ir nadando ao outro lado, mas eu não me atreveria sem neoprene, mesmo no verão. Sabe as praias de Florianópolis? Frio no mesmo estilo… Falando sério, sempre tem gente nadando no lago, que mede 38 x 14km.
No fim de semana fomos fazer uma caminhada, um dos passatempos favoritos do franceses. Subimos por uma montanha, uma horinha de caminhada e chegamos a um restaurante no meio da campina.
A dona, Jeanine, abre o negócio só no verão, e a comida é simples e deliciosa: salada de alface, batata palha frita na hora e queijo feito com o leite das suas cabras. E sobremesa com frutas vermelhas. Pela bagatela de 20€: na França, no meio da montanha, produtos locais, vinho à vontade…
Aqui está a foto do cardápio da Jeanine, com o telefone dela, para quem quiser fazer reserva.
Ela acondicionou o quad para subir a montanha, e levar os produtos para fazer as refeições. Estamos falando de uma senhora de mais de 60 anos.
Depois de bater papo, tirar fotos das cabras, fazer a digestão, chegou a hora de voltar. Voltamos pelo mesmo caminho que parecia que estávamos pisando nas nuvens, tudo era fascinante.
Ali pertinho fica a Col de la Forclaz. Quem já foi no Decathlon já viu alguma vez a marca Forclaz. Pois é quase toda fabricada nessa região, e é roupa de montanhismo, pois Forclaz é o nome de um pico de 1157m de altitude, de onde os esportistas saltam de parapente. Tem muito profissionais e se vê que é algo que apaixona. Há cursos de batismo para quem quiser, aliás, vários.
A volta
Já ia sendo hora de voltar para Madri, depois de tantas coisas bonitas e encontros com pessoas queridas… Voltamos por Aix-les-Bains, Grenoble (que é lindíssima), Valence, Orange.
Deu pena deixar essas maravilhas de férias, é verdade, porém a 350 km de Annecy, um pouquinho antes de Nimes, nos deparamos com um pequeno povoado medieval, e paramos para um descanso e fotos…
Em seguida fomos direto por Montpellier, Perpignan, até entrar de novo no camping Nautic Almata em Girona, passar uns dias descansando na praia e voltar para a nossa querida Madri.
O retorno foi mais em silêncio e com o coração cheio de beleza, os olhos transbordando paisagens e experiências gratificantes, e a certeza de voltar a fazer Madri-França em breve.
E você, gostou da viagem? Já fez Madri-França alguma vez? Divida a sua experiência com a gente!
Comida
Mesmo sendo a segunda região mais cara da França, só perdendo para Paris, a Alta Saboia (Haute–Savoie) ainda é barata comparando-se a Madri. Um bom queijo, um bom vinho, jamón, embutidos em geral, a comida em geral pode ser comprada no supermercado e sai mais em conta que em Madri. Um vinho com D.O. (denominação de origem) custa 2€, e nunca tive o azar de experimentar vinhos ruins na França.
Como fomos de van, comíamos sempre por nossa conta, ou éramos convidados a fazer alguma refeição na casa da família dos nossos anfitriões. Então comemos comida francesa caseira. Posso dizer que tudo era delicioso, porque com os vinhos + o genepi (licor de ervas dessa região) caseiro, o que vivemos foi uma grande festa dos sentidos.
Básico do básico, já citado neste post, vale lembrar:
- Se o carro estiver equipado como “coche vivenda” a velocidade máxima permitida na estrada é de 100km/hora. Para os apressados, as viagens podem se transformar em tortura. Para os que aproveitam o tempo e a companhia, é tempo de compartilhar, rir, descobrir, surpreender-se com o que se vê indo a essa velocidade.
- Sempre que pegar estrada, revisar os freios, água, luzes, coletes de emergência, limpador de para-brisas, pneus.
- Anotar os preços do combustível e sempre comparar preços antes de abastecer. É realmente infalível.
- Lembrar de levar cds ou gravar umas musiquinhas legais para ouvir no caminho e de estilos diferentes. Cada lugar pede uma trilha sonora, ou nenhuma…
- Normalmente quem viaja de van acorda cedo e dorme cedo. A menos que se viaje em galera e a vibe seja de ir pra balada. Mas, de van, o espírito é o de curtir a natureza, o silêncio, e respeitar o direito dos demais de curtir esse silêncio.
Cris Pacino ensina português e no seu blog usa tecnologia para difundir conhecimento, encurtar distâncias e conectar ideias. Adora pedalar, ir pra praia e bater papo.
Adorei seu relato! Que delicia de viagens e de paisagens 🙂
Que bom que tenha gostado, Suz!
Os lugares são realmente surpreendentes! Quem sabe você se anima e faz também! Se fizer, conte-nos! 😉
Ai que vontade de verão e férias! Post inspirador … *suspiros!!!!
Que bom que você gostou, Sandra! Vamos? 😉
Um beijo!