Desmistificando a vida na Europa: nossa experiência na Espanha

Muitas pessoas aspiram a grandes mudanças em suas vidas e, nesse processo, uma vida em um país mais desenvolvido surge como uma opção. De alguma forma até ingênua, no imaginário de muitos de nós brasileiros a vida na Europa parece cheia de encantos, como se fosse um paraíso em que todos os problemas desaparecem. Isso é um mito e é exatamente buscando contribuir com essa desmistificação que surge esse texto. Não são linhas de desencanto ou de reclamações, pelo contrário: estamos aqui por escolha pessoal e por uma série de razões, inclusive profissionais, que nos trouxeram a Madrid. E não estamos arrependidos de nossas escolhas, apenas queríamos contar de forma realista um pouco do que é esse processo.

Os desafios

Um processo de imigração é cheio de desafios, muito mais do que se imagina quando se está sonhando com essa mudança. A burocracia é uma delas: estar em outro país de forma legal é adaptar-se a uma legislação diferente de tudo que se lidou até então. Geralmente exige meses de mil encerramentos burocráticos no seu país de origem e, quando se pensa que acabou, surgem mais meses de papeladas para iniciar uma nova vida no país destino. Em nosso caso a empresa que possibilitou nossa vinda deu uma grande ajuda, inclusive possibilitando nossa chegada: na Espanha com altos níveis de desemprego de hoje, vir para trabalhar quase sempre exige que a empresa não apenas queira você no seu quadro de funcionários, mas prove ao governo que sua presença é importante também para o país.

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Outro desafio é a língua. Apesar de o espanhol ser um idioma próximo ao português, o castelhano é um idioma que possui bastantes particularidades e diferenças em comparação com o espanhol falado na América Latina. E, para complicar, os espanhóis utilizam muitas expressões locais, falam de maneira muito veloz e possuem um modo específico de vocalização que dificulta a compreensão até mesmo para quem é fluente na língua, mas aprendeu o idioma em outro país.

A cultura

A cultura espanhola, embora tenha muito em comum com a cultura brasileira, também é bastante diferente. O horário das refeições não é o mesmo, o clima é outro e a forma de interação também, só para citar alguns poucos exemplos. Se no fim das contas somos todos humanos e pertencer a uma cultura latina te aproxima dos espanhóis no que diz respeito ao estilo de vida pessoal e até mesmo de organização social, há incontáveis diferenças: algumas que se percebe logo na chegada e outras que vamos percebendo aos poucos, em um processo que segue e que não termina nunca.

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A economia

Algo também importante de ser dito diz respeito às questões financeiras. Com raras exceções, a Espanha não é um país em que se vem para “enriquecer”, como muitos pensam. Há muita disparidade entre os países desenvolvidos e há também diferenças significativas entre os países europeus. A Espanha está saindo de uma crise que se arrasta por anos e realmente hoje está em uma situação econômica muito melhor. Entretanto, aqui há uma sociedade muito mais igualitária que no Brasil. Isso significa que dificilmente você verá favelas, que as cidades espanholas costumam ser bem cuidadas e seguras, que ser pertencente ao clube dos países ricos, historicamente dominantes e à própria União Europeia, proporcionam um mínimo de qualidade de vida para quase todos os cidadãos do país. Há exceções, seguramente, mas geralmente todos aqui possuem pelo menos o mínimo que necessitam: uma realidade muito diferente do Brasil e de toda América Latina.

Ao mesmo tempo, um equilíbrio salarial entre distintas classes sociais e profissionais, bem como o alto custo de vida de uma capital europeia, faz com que certos luxos da classe média brasileira, que refletem de forma tosca o “sonho americano” e com salários que aqui fogem totalmente da média, sejam quase impensáveis para grande parcela da sociedade espanhola: casas e apartamentos espaçosos, vários carros na garagem, faxinas pagas semanalmente e alto consumo não são o padrão por aqui. Viver na Espanha, para nós e para muitos, significa fazer escolhas criteriosas: morar em espaços menores para não ir viver distante do centro, abdicar de carro e pegar o metrô no frio para poder viajar, deixar restaurantes caros para poder visitar a família pelo menos uma vez por ano, fazer faxina semanalmente com as próprias mãos para poder guardar alguma reserva para o futuro.

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Isso é ainda mais real quando se pensa em um casal, levando em conta que dificilmente as duas pessoas chegam empregadas pro mesmo país e duas rendas no país de origem se transformam em apenas uma no país de destino. Os almoços dominicais na casa dos pais, verdadeiros banquetes familiares, transformam-se em refeições bem mais simples. Os almoços de segunda à sexta-feira em restaurantes geralmente viram almoços coletivos na cozinha da empresa preparados com mantimentos do mercado próximo ao local de trabalho. E as saudades da família e dos amigos são um vazio constante que a gente vai aprendendo a lidar como pode.

O lado bom

Há também inúmeros aprendizados e experiências bacanas nesse caminho, incontáveis a gente diria. E muitas delas estão registradas em nosso blog, em nossas redes sociais, em nossas memórias e nos momentos de nosso cotidiano que guardamos para gente. O crescimento profissional e o desenvolvimento de habilidades que a “mãe necessidade” nos força a aprender é algo que nos fortalece e que serve como prêmio. E há a possibilidade de viver em uma cidade, país e continente encantadores, lugares que hoje chamamos de “nossa casa”.

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E existem, como sempre, pessoas especiais que vamos cruzando pelo caminho, que facilitam nossa vida e que acabam sendo nossa família aqui. Por fim, há as viagens, em um local em que se deslocar é infinitamente mais fácil que no Brasil e onde quase tudo é novo para duas almas viajantes. Entretanto, falar delas seria recomeçar um novo texto ou contar de novo algumas histórias que já foram registradas: melhor do que fazer isso, é convidar aos interessados a visitar o nosso blog e o BLPM!

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