Sei que estamos um pouco repetitivas com o tema “pandemia”, mas infelizmente é uma realidade de todas nós vivendo numa cidade como Madrid. A tal da “nova normalidade” afeta vários aspectos da nossa vida e queremos compartilhar isso com os leitores do BLPM. Portanto, hoje, vou comentar como foi a volta ao trabalho em tempos de pandemia.

Obviamente, estou falando de voltar ao trabalho no escritório, com os colegas de trabalho na mesma sala, tendo que nos locomover para chegar até lá… Durante a pandemia praticamente nenhuma de nós do grupo deixou de trabalhar ou estudar, mas sim tivemos que nos adaptar à realidade do home office (teletrabajo) ou do ensino a distância.

No meu caso, fui pra casa com meu monitor debaixo do braço no dia 12/03. Me despedi do chefe e dos colegas pensando que voltaria a vê-los em duas semanas, conforme já comentei em um dos posts coletivos que fizemos.

Eu e o meu marido moramos num apartamento grande e tivemos a sorte de poder ter um escritório pra cada um. Ele é professor e passava o dia inteiro conectado e… falando, enquanto eu ficava em duzentas reuniões por semana também falando. Não consigo imaginar a bagunça que teria sido isso num apartamento pequeno.

E assim foi durante três meses, até que, durante as Fases 2 e 3 da desescalada, eu fui chamada para regressar para o escritório. Primeiramente foi voluntário e logo por obrigação. Eu voltei de vez no final de maio e posso dizer que a experiência foi bastante complicada.

Por que tive que voltar ao escritório?

Cabe dizer que, das 7 pessoas ativas no BLPM, eu fui a única que teve que regressar ao trabalho em escritório, enquanto as outras seguiram suas rotinas de casa. A maioria das empresas nas quais os trabalhadores podiam seguir de casa decidiram seguir esse modelo. Aliás, acredito que será um novo ponto de decisão quando alguém fizer uma entrevista de emprego! Poder trabalhar de casa ou ter horário flexível é algo incrível que deve ser mais explorado.

Mas falando sobre o meu retorno: a minha equipe estava redondinha e trabalhando bem online, porém, soube mais tarde que outras pessoas, de outros escritórios ou departamentos, deixavam o computador ligado e passavam o dia fazendo mil outras coisas que não era trabalhar. Comentários à parte, a volta ao escritório gerou muito desconforto, principalmente por pessoas que estavam em salas muito lotadas ou tinham que vir de metrô. Também porque faltava álcool gel ou porque tinham medo até de ir no banheiro devido ao contato próximo com outras pessoas.

Não podia comer todo mundo na mesa da cozinha, não podia usar a sala de reuniões, não podia estar na presença de mais de seis pessoas ao meu tempo. Foi um festival de “isso não pode!” até encontrarmos o nosso espaço seguro.

Quais foram as medidas para evitar o contágio dentro do escritório?

As medidas tomadas para que as pessoas se sentissem mais seguras, ou um pouco mais à vontade, foram:

• Máscaras obrigatórias, salvo em sua própria estação de  trabalho
• Separação de mesas em mais de 1,5 metro de distância
• Instalação de uma folha de acrílico entre mesas, se não havia distância segura, ou simplesmente porque algumas pessoas pediram pela proteção
• Limpeza dos dutos de ar-condicionado e um novo sistema de ventilação para renovar o ar diariamente
• Álcool gel e desinfetante por todos os lados
• Deixar as portas de entrada e entre as escadas abertas para evitar tantos toques em maçanetas
• Horário de utilização da cozinha com aforo limitado
• Pessoas com qualquer tipo de sintoma deveriam ficar em casa, fazer o teste e reportar em caso de positivo

No princípio, a coisa que mais me incomodou foi estar em contato com outras pessoas que me viam como uma “ameaça”. Quando cruzava com alguém pela porta ou corredor, algumas “se jogavam” na parede ou saíam correndo, e evitavam até contato visual. E isso foi horrível! Mesmo porque eu nem tive contato direto com nenhum caso positivo… mas, ainda assim, o medo das pessoas era muito grande. E provavelmente elas tinham razão de ter tanto cuidado, mas eu demorei pra separar o medo da falta de educação!

E aí o real “pandemônio” foi durante a semana em que não uma, mas sim duas pessoas reportaram ter tido contato direto com positivos – pessoas da família. Todo o escritório parou e mais de 50 pessoas foram mandadas para fazer teste de sorologia, para saber se tinham anticorpos, e em caso de positivo, tinham também que fazer o PCR para saber se ainda tinham o vírus. Eu estava de férias, mas fiz no retorno e, obviamente, saiu negativo.

Algumas das pessoas, depois desse teste geral, souberam que já tinham anticorpos – ou seja, foram positivas em alqum momento do ano, porém completamente assintomáticas – provavelmente fruto de um contágio durante os meses prévios, quando a pandemia estava fora de controle aqui em Madrid.

E o ambiente é realmente seguro?

Felizmente, não tivemos casos de contaminação direta no escritório. Porém sim tivemos alguns casos mais de contato com positivos ou pessoas positivas  que trabalhavam no escritório, e que ficaram alguns dias de quarentena. Com os dados de testes que temos internamente, sabemos que ainda não ocorreu contaminação dentro do ambiente de trabalho. Foram casos isolados que contraíram o vírus no seu ambiente pessoal.

O grande problema que eu vejo é a falta de preparo e de procedimento do próprio município de Madrid. Em alguns casos, as pessoas em situação de risco precisam fazer o teste pela saúde pública, em outros te mandam para uma seguradora da empresa. Nunca fazem teste para verificar se as pessoas de quarentena seguem com o vírus ou não e a empresa também não tem obrigação de fazer teste porque os contágios não acontecem dentro do escritório.

O grande problema que eu vejo é: muitas pessoas reclamam de ir trabalhar no escritório, porém não deixam de visitar amigos, sair para tomar cerveja no happy hour ou viajar para fora de Madrid. E nessas reuniões sociais é onde acontece grande parte dos contágios.

Acredito que dentro do escritório, com as medidas tomadas, estamos em um ambiente seguro. Mas entendo que o deslocamento no transporte público e o medo possam causar efeitos negativos na saúde das pessoas.

E como está a situação agora?

Enquanto escrevo este texto, Madrid está em estado de alarme e com toque de recolher das 00h00 às 6h00. Porém, as pessoas podem sair para trabalhar, estudar, comprar etc. Não tem absolutamente nada fechado (por enquanto)! Dentro do meu escritório dividimos todas as equipes em dois grupos, trabalhando presencialmente dia sim e dia não… Como isso era voluntário, eu sigo indo diariamente e assim vejo todos e todas que trabalham comigo diretamente.

Estamos há mais de 30 dias sem nenhum aviso de positivos entre os funcionários. Espero que siga assim!

E você, leitor? Quer dividir conosco a sua experiência de trabalho durante a pandemia? Deixa um comentário pra gente!