Bossa em castelhano

Guest Post escrito por Pedro Mox do blog Pedro Mox e @pedromox no Instagram.

Musical La Canción de Ipanema apresenta em Madrid uma história regada ao melhor da música brasileira.

Estamos no Bar Veloso, ponto de encontro de Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Ali, entre uísques e cigarros, os dois maestros da Bossa Nova conversam descontraidamente entre canções e pileques. Dali, entre improvisos e rabiscos, sairiam alguns dos maiores temas do cancioneiro nacional. Prosa e poesia em estado puro.

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La Canción de Ipanema é o primeiro musical dedicado ao estilo que é parte indissociável da identidade nacional. Leva o expectador ao início dos anos 60 – mais precisamente a 1962, ano do Um encontro, show que reuniu entre outros Tom, Vinicius e João Gilberto sob a batuta do produtor Aloysio de Oliveira. Conta surgimento do romance entre Vinicius e uma garota 30 anos mais nova – que o fez “fugir”, literalmente, para Europa.

Pois é esse ambiente, intimista e informal que o Bar Veloso traz à capital espanhola. Não, esse Veloso não está a duas quadras da orla carioca; todavia tenha quiçá mais “espírito bossanovístico” que o Beco das Garrafas dos anos 2000. O Veloso está no Teatro Fígaro, a poucos metros da Plaza de Jacinto Benavente, em pleno centro de Madrid.

A montagem é obra do autor e protagonista José Luis Sánchez, que interpreta o Poetinha e é autor da biografia Antonio Carlos Jobim. Sua relação com o país tropical, entretanto, vai além da música: é casado com uma brasileira, coordena cursos de pós-graduação em uma instituição do país e os 15 anos de Brasil fazem pensar que é de fato lusófono ao cantar. Em resumo, já se considera “meio estrangeiro” em solo ibérico.

“Além dos clássicos, alguns em português e algumas adaptadas ao castelhano, três músicas foram compostas especialmente para o musical” conta José Luis, verdadeiro multifunção que é autor de cinco dicionários português-espanhol e traduziu Dom Quixote para o idioma de Camões.

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Se a bossa é interpretada em dois idiomas, sua presença no palco é igualmente binacional. Metade do elenco nasceu no outro lado do Atlântico: os músicos Gabriel Fortunato, Bruno Butenas Lopez, Ed Moreira e a cantora Lari Antunes. Bruno e Gabriel destacam a importância do estilo genuinamente brasileiro no contexto mundial; bem como incorporação de distintos elementos da cultura do país. E a pessoa única de Vinicius, como comenta Bruno “ao mesmo tempo que tinha esse espírito boêmio tinha uma cultura incrível; tomava seu uísque e ao mesmo tempo compunha e lia um Neruda.

Na apresentação da obra, foi executada não ao acaso “Apesar de Você”, de Chico Buarque. Gabriel ressalta, além da figura de Chico também na Bossa Nova, o contexto político dos anos 60, quando o golpe militar instaurou a ditadura de 64 – na esteira dos regimes autoritários que sufocaram toda América Latina assassinando e torturando impunemente. Não muito diferente, diga-se de passagem, da realidade espanhola em tempos da bandeira com aguilucho.

Lari, que é também atriz, vive há cinco anos na Espanha (“até ontem” em Barcelona), canta e interpreta Helô Pinheiro. Pontua a representação de uma mulher brasileira mais além de estereótipos, mas ressaltando sua força e sentimento de liberdade. Em teoria é a garota de Ipanema, mas durante o espetáculo o público vai descobrindo estória por trás da composição, desvelando um fato desconhecido para a imensa maioria.

Após a temporada catalã, o musical chega a Madrid em pleno verão, excelente oportunidade para não somente moradores, mas também turistas que pouco a pouco retornam às ensolaradas calles de los Austrias. Mais do que nunca uma oportunidade para relembrar que sim, a cultura é segura. E, num futuro (próximo, esperamos) aterrisará em Terra Brasilis.

Informações práticas

La Canción de Ipanema – El Musical

De 2 de julho a 1o de agosto – de quarta a domingo às 20h.

Teatro Fígaro, Calle Doctor Cortezo, 5.

Entradas aqui.

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