Ao lado da estação de trem de Atocha e somente a cinco minutos caminhado do Museu Reina Sofia está um pequeno e interessante museu especializado em povos do mundo que já tem mais de 140 anos de existência: o Museu Nacional de Antropologia.
O lema do Museu Nacional de Antropologia (MNA) é “el museo de la gente como nos+otros”. O museu da gente como a gente, talvez seria a tradução mais próximas ao português. O legal do lema é o jogo com o pronome pessoal nós, que é nosotros em espanhol, que foi transformado em “nos+otros”, nós+outros. Visualmente é a síntese da Antropologia, ciência interessada nas relações humanas.
Com isso, o MNA já ganhou meu coração de antropóloga adormecido.
Em 29 de abril de 1845 o MNA abriu para o público. Seu fundador é o médico segoviano Pedro Gonzalez Velasco, um colecionador interessado na antropologia física que estudava o exótico e o anormal na anatomia humana. Talvez por isso uma das peças de destaque seja o gigante extremeño, o esqueleto de um jovem de 2,35 metros que sofria de acromegalia (doença crônica que provoca o crescimento anormal das extremidades do corpo). A altura do jovem provocava muita curiosidade aos demais, tanta que dizem que chegou a ser fotografado ao lado do rei Alfonso XII que o presenteou com um par de botas feito a medida.
Mas foi depois da sua morte que Agustin Luengo se converteu na grande atração de público que fez o museu ficar conhecido. Todos, incluídos os imperadores do Brasil da época (D. Pedro II e Teresa Cristina de Bourbom-Duas Sicílias, em 1877), queriam conhecer “aquele que desafiou as leis da natureza”. A sala “Origens do Museu” conta a etapa dessa história e sua fundação.
Finalmente em 2004, o museu deixa de ser um gabinete de curiosidade para transformar-se em uma coleção sobre culturas, com o objetivo de “transmitir os valores do respeito e da convivência com todas as culturas” como afirma o diretor da instituição ao jornal El Mundo.
São quatro salas da coleção permanente que oferecem uma visão global das culturas de outros povos, com destaque para Filipinas, religiões orientais, África e América. As peças da Filipinas foram especialmente trazidas para a “exposição geral das ilhas Filipinas” que aconteceu em Madrid em 1887. A parte de religião oriental divide o primeiro andar com as Filipinas. África e América têm um andar cada uma. São 10 peças-chaves, muitas de diferentes expedições organizadas por instituições espanholas nos últimos anos do século XIX. É uma oportunidade de ver objetos de importância etnográfica e histórica.
O objetivo do museu é que “assim se estabelecem as semelhanças ou diferenças culturais que nos unem ou separam para evidenciar a riqueza e diversidade das culturas existentes no mundo, favorecendo a compreensão intercultural e promovendo a tolerância entre os outros povos e outras culturas”. Com certeza, um exercício que todos temos que repetir e repetir no mundo atual.
Para mim, é nas exposições temporais que o Museu se renova e traz a reflexão importante sobre as diferentes culturais. Recomendo entrar no site do MNA, sempre há mostras muito interessantes. Até dia 18 de julho, “MUJERES DEL CONGO Fotografías de Isabel Muñoz y Concha Casajús” e “TURKANA, un mundo que se agota. La cuna de la humanidad amenazada por el cambio climático” estão no MNA.
Para quem está em Madrid por mais tempo, estudando ou morando, o Museu oferece várias visitas guiadas ou temáticas. Muitas são durante o final de semana. Em um domingo de manhã, fui com Lucia (filha de amigos de 12 anos) a uma sobre “formas de vestir: indumentária e adorno”. Ela ficou maravilhada que somos ao mesmo tempo tão iguais e somos capazes de ser tão diferentes. E a ênfase é no diferente! A diferença não nos torna desiguais. Essa é a lição do Museu.
Museu Nacional de Antropologia
Onde? Calle Alfonso XII, 68
Metro: Estacion de Atocha Renfe (linha 01)
Ônibus: 10, 14, 19, 26, 32, 37, 85,86 e Circular.
Quando? De 3af a sábado das 9h30 às 20h00.
Domingos e feriados de 10h00 as 15h00.
2af, fechado.
Quanto? Entrada geral: 3 euros.
Entrada gratuita aos sábados a partir das 14h00 e aos domingos.
Sandra Brocksom é do interior de São Paulo e veio morar em Madrid por amor a um espanhol. Ela acabou se apaixonando também pela cultura, gastronomia e história madrilenha e espanhola. Ela conta suas experiências no blog Sandra B Em Madrid.