Aula de obediência urbana com cães em Madrid

Guest post escrito por Raquel Sodré, do blog Que Ideia

Eu cheguei a Madrid para fazer um máster. Vim de mala, cuia e cachorro. Logo de cara, meu marido e eu ficamos impressionados com a quantidade de parques, praças e áreas verdes aonde poderíamos levar Aruk, nosso vira-lata de 28 kg. Nós só não consideramos uma coisa: Aruk era absolutamente incivilizado. Foi para corrigir esse problema, que nós fizemos um super aulão intensivo de obediência urbana.

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Marido e eu adotamos Aruk no fim de 2015, e não havia possibilidade de ele ficar no Brasil enquanto nós estivéssemos do outro lado do mundo. Ou vinha todo mundo, ou não vinha ninguém. Depois de uma maratona de documentos, vacinas, microchip, exames, treinamento para viajar na caixa de transporte no avião, finalmente chegamos a Madrid. (Veja o post da Camila que explica como transportar seu animal para a Espanha)

Aruk - educacão canina
Aruk se acostumando com a caixa de transporte

Não vou mentir: rolou uma frustração quando percebemos que não seria tão fácil assim inserir o Aruk nas nossas saídas. Das vezes que tentamos levá-lo a um restaurante ou a um parque, terminamos a missão exaustos, suados e sujos, de tanto tentar controlar Aruk em seus impulsos de cheirar todas as comidas, “conversar” com todos os cachorros e tentar pastorear todas as pessoas andando de skate, patins, patinete e bicicleta que passavam por nós.

Mas a luz no fim do túnel veio quando eu soube da máster class de obediência urbana dada pela adestradora Ana María Suarez, proprietária da empresa Obediencia Urbana. O propósito da empresa é educar cães para que eles frequentem os mesmos espaços que seus donos e fiquem tranquilos nesses espaços, sem causar estresse para ninguém.

Há esperança, e ela está em uma máster class

Foi para aprender isso que Aruk e eu fomos encontrar Ana e uma trupe de mais onze cães, todos acompanhados de seus donos, no parque El Retiro no início de maio. A máster class dura uma manhã inteira, e cães e humanos aprendem uma série de exercícios que ajudam na socialização dos peludos nos espaços públicos.

“Na Obediencia Urbana, nós nos especializamos em cães de assistência. O treinamento desse tipo de cães não é diferente dos cães de companhia. A diferença é que repetimos com eles os treinos em muitos lugares diferentes”, contou Ana Maria. Assim os cães aprendem o conceito da generalização, ou seja, que aquele é o comportamento desejado em todas as situações similares.

A máster class começa com o treino de alguns comandos muito básicos, como o atender pelo nome, olhar para o dono e atender ao chamado de “vem aqui”. Toda essa parte é feita com os cães ainda na guia, em um espaço aberto do parque.

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Treinando com o os cães no parque El Retiro

Treinando com o cão livre da guia

Depois, vem a segunda fase, que é focada no comando da chamada, mas com os cães já livres da guia. No espaço destinado aos cães no parque El Retiro, Ana nos ensinou a forma certa de fazer o cão atender ao chamado do dono, mesmo quando está correndo solto em um parque e interagindo com outros cães.

“Soltar um cão em um parque é um prêmio muito grande. Por isso, é importante pedir que ele faça alguns comandos antes de liberá-lo da guia. Ele deve fazer, pelo menos, um ‘senta’, um ‘deita’ e dois segundos de olhar para o dono para merecer um prêmio desse tamanho”, ela explicou (depois de eu ter soltado o Aruk, que me puxava pela guia como se fosse um cachorro de trenó).

Não puxar pela guia: o maior desafio da educação canina

Saindo do espaço reservado aos cães, aproveitamos um passeio pelo El Retiro para treinar justamente como fazer um passeio tranquilo, sem o cão “puxar pela guia como se estivesse possuído”, nas palavras da Ana. Já dá para imaginar que essa parte da aula, para mim e Aruk, foi bem cansativa. Apesar de vira-lata, ele tem alguma herança de cão-pastor. E isso significa que ele sempre precisa estar na frente do bando, me levando como se eu fosse um papagaio (uma cafifa, ou uma pipa, dependendo de qual região do Brasil você é).

Passado o sufoco passeio, chegamos à última parte da aula, quando treinamos os comandos para não pegar comida do chão, ficar no mesmo lugar, mesmo se o dono se afastar e soltar o que estiver na boca — seja comida ou brinquedo. Nessa parte da aula, já perto das 14h, Aruk e eu estávamos esgotados, e ele já havia perdido o restinho de concentração que tinha. De toda forma, aprender os exercícios foi muito bom para continuar treinando com ele em casa.

Depois do trabalho divertido e duro, um pouco de lazer

Terminada essa parte do treino, vem o mais legal da máster class: ir a las cañas com os cães e os colegas de turma. Saindo do Retiro, nos sentamos todos juntos em um restaurante em Lavapiés para descansar, tomar uma cerveja, almoçar e bater papo. Enquanto isso, os cães (exaustos) ficaram deitados e super bem comportados debaixo da mesa — sinal de que a aula funcionou mesmo!

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Ana María e a turma de obediencia urbana de cães

Ana María aproveitou o momento para esclarecer dúvidas de cada humano e também para ensinar alguns conceitos. “Adestramento é diferente de educação. Adestrar significa ensinar algum truque ou comando específico. Você ensina uma vez e, depois de aprendido, o cão vai fazer sempre. Educação é um ato contínuo. Todos os dias eu educo minhas cadelas”, disse.

Ainda com as endorfinas da aula, continuei praticando os exercícios com Aruk durante a semana. E não é que deu resultado mesmo? Depois de dias treinando os comandos em casa, 15 minutinhos por dia, Aruk já não está puxando tanto pela coleira, consegue controlar mais seus impulsos quando vê outros cães na rua e atende melhor ao meu chamado quando vamos ao parque. Não comer comida do chão é um desafio que ainda vai levar um tempinho para ser superado (risos).

Ana María viaja a Espanha dando essa máster class em várias cidades. Além de Madrid, ela também costuma visitar Sevilha, Guadalajara, Lanzarote, Barcelona e várias outras. Sempre, no fim de cada aula, há uma confraternização com direito a uma cerveja e almoço, já incluídos no preço da aula (60€).

As máster classes podem ser repetidas várias vezes, pois em cada uma o cão e seu dono poderão se aprofundar mais no treinamento. As datas das aulas sempre são divulgadas na página da Obediencia Urbana no Facebook.

Curtiu?! Deixe o seu comentário! E não deixe de conferir o post da Susana com dicas locais dog-friendly em Madrid.

2 comentários sobre “Aula de obediência urbana com cães em Madrid

  1. Seu texto e a tradução do meu problema com o nosso vira lata. Entrar no padrão europeu de comportamento e sair de casa com ele seria a maior recompensa sem estar exausta e stressada a cada passeio. Vou tentar o aulão. Mas o caso aqui e comportamento…. obrigada

    1. Oi, Fernanda!
      É uma angústia não conseguirmos incluir os peludos na nossa vida social, né? Eu achava que com o Aruk seria impossível. Mas com essa aula eu descobri que é tudo questão de treino. Nós continuamos fazendo os exercícios com ele, e hoje já conseguimos levar ele pra restaurantes, sentar com a gente em um bar, e ele fica super bonzinho. Em outras coisas ainda estamos no processo (é o caso de comer comidas do chão), mas também já vimos melhoras. Os exercícios dão um super resultado, é só ter disciplina.
      Coincidentemente, a Ana María está voltando com a masterclass este mês a Madrid! Você já pode fazer esta turma, se tiver disponibilidade! ^_^ Dá uma olhada na página dela para os detalhes e, se tiver alguma dúvida, pode perguntar! Abraço e boa sorte com o dog!!

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