A palavra apelido não existe em espanhol. Existe apellido, que significa sobrenome, em português. Hoje vamos ver que os apelidos dos reis eram de verdade, acreditem ou não: Juana, la loca. Jaime, el conquistador, Alfonso el sábio…
Aqui na Espanha o que não falta é criatividade para dar apelidos às pessoas. Às vezes cruéis, outras certeiros, os apelidos deixaram marcas nos seus donos, que ultrapassaram o limite dos tempos. Conferimos alguns, neste capítulo, dedicado às mulheres: Juana, la loca, Isabel, a católica e Isabel II, a rainha ninfomaníaca.
1. Juana, la loca.
Juana I de Castilla (1479 – 1555) foi a segunda dos cinco filhos dos Reis Católicos da Espanha. Casou-se com Felipe, el hermoso, quem sempre amou, mas conta-se que ela acabou perdendo a razão por completo graças às infidelidades de Felipe, e também depois da sua morte, quando passeou com o corpo dele por várias cidades durante um certo tempo. Por essa “loucura” era anoréxica e se transformou numa pessoa de coração duro e impiedoso. Outra versão conta que sua “suposta” doença mental foi alegada pelo seu pai e pelo seu filho para afastá-la do trono quando sua mãe, Isabel, la católica, faleceu, e para manter Juana presa (sim, presa) durante 46 anos em Tordesilhas. Todas essas estórias ficaram registradas no Romantismo tanto em forma de pintura como na literatura.
![](https://blogueirosmadrid.com/wp-content/uploads/2018/01/Juana-I-de-Castilla-620x989.jpg)
Existe até um filme de 2001 que conta sua “loucura”:
2. Isabel, a católica
Isabel I de Castilla (1451-1504) foi rainha sem estar predestinada a sê-lo. Historiadores contam que quando ela recebeu a notícia da morte de seu meio-irmão, Enrique IV, colocou uma roupa ostentosa e se autoproclamou rainha de Castilha. Assim começou a lenda de uma das mulheres mais importantes da história da Europa.
A Rainha Isabel aprendeu como não deveria exercer o seu poder ao observar Enrique IV, que era considerado um “fraco”. Isabel teve a ideia de se casar com Fernando II de Aragón, que seria depois Fernando, o católico, fazendo assim uma jogada estratégica que levou a concentrar seu poder e ser lembrada como a grande unificadora da Espanha.
![](https://blogueirosmadrid.com/wp-content/uploads/2018/01/isabel-la-catolica-el-prado.jpg)
Isabel não podia se casar com Fernando por 2 razões: seu irmão não havia permitido e os noivos eram primos de segundo grau. Porém, pediram ajuda ao Arcebispo Carrillo, que não teve inconveniente em fazer uma bula (documento) falsa para dar “validade” à união. O documento autêntico ficaria pronto tempo depois, para legitimar o casamento.
Foi chamada de “a católica” porque nasceu numa Sexta-Feira Santa e porque demonstrou ser uma autêntica cristã, professando devoção e veneração pela fé. Nessa época, o poder da igreja católica estava intimamente ligado ao poder político monárquico.
Considerada a dama de ferro do século XV, era uma mulher potente e muito conservadora, que exerceu seu poder com austeridade, se opôs aos homens e que não fez nada a favor das mulheres.
![](https://blogueirosmadrid.com/wp-content/uploads/2018/01/isabel-la-catolica-virgen.jpg)
Algumas curiosidades:
- Tinha um ciúmes doentio pelo marido, mas dizem que não lhe faltavam motivos;
- Sobre sua higiene, dizem que não se cuidava muito, inclusive tinha mau cheiro;
- Não se casou apaixonada, já que o casamento foi arranjado, mas com tempo ficou caída pelo Fernando.
- Acreditou nele e apoiou os projetos de Cristóvão Colombo, patrocinando sua ida à América e posterior catequização dos índios;
- Estabeleceu a Santa Inquisição em 1478, que durou até 1812, sendo abolida realmente em 1834;
- Conquistou Granada em 1492 e expulsou os judeus e muçulmanos que não se convertessem ao cristianismo;
- Criou conselhos de guerra, organizou o território, fomentou o crescimento econômico da Espanha na época.
- A primeira Gramática Castellana foi escrita por Nebrija em 1492, e oferecida à rainha. Ela também apoiava as artes em geral e a literatura;
- Sua beatificação ainda está em processo no Vaticano.
Ela foi tão importante na história da Espanha que ganhou uma série na TV, chamada Isabel.
![](https://blogueirosmadrid.com/wp-content/uploads/2018/01/isabel-la-catolica-rtve-620x400.png)
3. Isabel II da Espanha, a rainha dos tristes destinos / a rainha ninfomaníaca
María Isabel Luisa de Borbón e Borbón-Duas Sicílias (1830-1904) foi rainha da Espanha entre 1833 e 1868.
Teve que assumir o trono antes dos três anos de idade. Aos 16 se casou com seu primo tanto por parte de pai como de mãe, Francisco de Asís de Borbón. O casal ficou conhecido por escândalos sexuais:
- Diz-se que ele era homossexual e que na noite de núpcias ela disse “o que esperar de um homem que usa mais renda do que eu?”
- Conta-se que ela tinha um apetite sexual voraz, teve vários amantes e aventuras esporádicas, inclusive com um general da corte.
![](https://blogueirosmadrid.com/wp-content/uploads/2018/01/Isabel-II-e-Francisco-de-Asi%cc%81s.png)
Curiosidades:
- Também tinha um terceiro apelido, a rainha castiça, por ser madrilenha;
- Realizou várias obras públicas e hidráulicas como o Canal de Isabel II, além de estradas e pontes, construção de ferrovias, tão importantes a ponto de serem levadas à Expo Universal de Paris em 1867;
- Reabriu universidades fechadas pelo seu pai, Fernando VII, mas com muita resistência por parte da igreja, o que acabou limitando a liberdade de cátedra. A Espanha de 1855 contava com 6000 povoados sem escolas, 53 escolas de secundária com 10 mil alunos (5 vezes menos que na França da época), 56 bibliotecas públicas, o único ponto de acesso ao livro para a maioria dos habitantes;
- Não podia tomar decisões aos 3 anos, por isso contou com a regência de sua mãe, María Cristina (daí a famosa música do vídeo abaixo), até os 13 anos, quando foi decretada sua “maioridade” para que pudesse reinar.
- Diz-se que se deitava às 5 da manhã e se levantava às 3 da tarde.
- Em 1852 sofreu um atentado: o padre Martín Merino tentou matá-la atacando-a com um estilete na costela, dentro da Basílica de Nuestra Señora de Atocha, aos poucos dias do nascimento da sua filha Isabel. A rainha se recuperou rapidamente, graças a um corset que a protegeu. O padre foi condenado à morte e executado.
![](https://blogueirosmadrid.com/wp-content/uploads/2018/01/corse-reina-isabel-ii.jpg)
María Cristina quer me governar. Olha aonde pode chegar a reputação de uma regente.
Seja através de Juana, la loca, de Isabel, a católica ou de Isabel II a rainha ninfomaníaca, a Espanha tem várias estórias interessantes, de arrepiar e não à toa, se transformaram em filmes, séries ou livros.
No próximo capítulo, vamos ficar sabendo dos porquês dos apelidos dos reis. Até lá!
Cris Pacino ensina português e no seu blog usa tecnologia para difundir conhecimento, encurtar distâncias e conectar ideias. Adora pedalar, ir pra praia e bater papo.
Valeu Cristina! Muito bom o texto, além do que adoro a história de Isabel I
Oi Patricia,
Obrigada a você por estar aí!
Que bom saber que tem gente que gosta desses assuntos!
Um abraço!
Valeu Obrigado.
Valeu, Emmanuel! Obrigada a você!